Agora,Guilhermo Del Toro escreveu e dirigiu uma nova versão bombástica porém assistível, do grande romance de Mary Shelley,Frankenstein, transformando-o em um melodrama majestoso, estrelado por Oscar Isaac como o anatomista e livre-pensador apaixonado Victor Frankenstein e Jacob Elordi como sua criatura: nada de parafusos no pescoço ou testa grande e franjada, é claro, e se compararmos sua atuação com a de outros atores – Boris Karloff, Peter Boyle, Robert De Niro – ele é, apesar das cicatrizes protéticas pitorescas, o mais próximo que essa figura icônica já chegou de ser um “galã”.
Estilo visual
É uma história épica de um cientista e um monstro, ambos com sotaques britânicos refinados, o do monstro com um toque de John Hurt em O Homem Elefante. O estilo visual do filme é absolutamente singular e inconfundivelmente de Del Toro: uma série de imagens belíssimas e intrincadas, adornadas com detalhes de época infinitesimalmente precisos; foco profundo, mas também estranhamente superficial, como vitrais de alta tecnologia ou ilustrações em um livro vitoriano; imagens cuja beleza luxuosa ressalta a reverência do filme pelo material original e por si mesmo, mas que, para mim, impede a energia do horror. Este filme não corre o risco de ser de mau gosto.
Infelizmente, Del Toro insiste em fazer de seu monstro uma espécie de demônio sobrenatural, resistente a balas. Embora eu deva reconhecer a engenhosidade e o vigor com que Del Toro realiza a transição narrativa para o ponto de vista da própria criatura, permitindo que ela narre suas experiências após escapar do laboratório de Frankenstein: absurdo, mas essa mudança é o lampejo que dá ao filme um mínimo de vida.
Traumas de Victor
Quando menino, o temperamental Victor sofre abusos do seu cruel pai disciplinador (Charles Dance), um médico renomado cujo temperamento colérico inspira Victor a superar o velho – a se rebelar contra o seu criador, na verdade. Já um jovem e brilhante médico, Frankenstein escandaliza a comunidade médica de Edimburgo com sua ateia de que um ser humano pode ser criado (e a morte enganada) aplicando-se uma carga elétrica a uma grotesca coleção de partes de corpos recolhidas.
O impetuoso Victor é tolerado pelo seu afetuoso irmão mais novo, William (Felix Kammerer), por cuja noiva, Elizabeth (Mia Goth), Victor se sente atraído, mas que percebe a arrogância e a frieza inerente de Victor.
É o tio de Elizabeth, Harlander (Christoph Waltz), um rico fabricante de armas, quem se oferece para financiar o projeto do homem artificial de Frankenstein, que na verdade consiste em um único cadáver retirado do campo de batalha, um gigante gentil que a princípio fica fascinado por este admirável mundo novo para o qual Victor o trouxe, mas depois se sente magoado pela frieza de Victor.
Quanto ao misterioso, sinistro e sedutor cavalheiro de Waltz, ele diz displicentemente que, em troca de pagar por tudo isso, talvez precise de “algum favor”…
Eu gostaria que a personagem de Mia Goth tivesse tido mais destaque: sua presença lembrava a de Mia Wasikowska em ” A Colina Escarlate”, o interessantíssimo e subestimado filme de fantasia à la Du Maurier dirigido por Del Toro. Ela tem uma cena excelente, atípica em seu humor lúdico, na qual Frankenstein segue Elizabeth secretamente até a igreja, entra sorrateiramente no confessionário do lado do padre e ouve, com um sorriso malicioso, sua confissão sussurrada: o pecado da raiva, ao que parece, já que ela se ressente desse arrogante Dr. Victor Frankenstein, que a provoca na conversa… e, no entanto, ela claramente se sente afetada por ele.
Finalmente, inevitavelmente, ao término da longa narrativa, chegamos à questão de qual dos dois é o “verdadeiro” monstro.
