Muito antes de o Fleetwood Mac tornar-se conhecido pelas músicas de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, a banda já havia se destacado com um som blueseiro e discreto. Em 1969, o Fleetwood Mac, de Peter Green, era aclamado como uma nova voz na cena blues-rock britânica. Sua música destacava-se não pelo volume, mas pela profundidade emocional e elegância contida.
Entre suas primeiras faixas de destaque estava “Black Magic Woman”, um single que não apenas destacaria os poderes criativos de Green, mas também se tornaria um sucesso global — embora com a voz de outra pessoa. A música carregava um tom mais sombrio e místico em comparação com o hit instrumental “Albatross”, mas ambos revelavam a abordagem mais suave do grupo ao blues.
O que muitos não sabem é que a origem da música é profundamente pessoal, enraizada em decepções amorosas e influenciada pela época de Green com o Bluesbreakers de John Mayall. Para entender “Black Magic Woman”, é preciso olhar para o homem que a escreveu — e a magia que ele infundiu em cada nota.
Peter Green não era como os outros vocalistas da época. Enquanto bandas como Led Zeppelin e The Who aumentavam o volume, Green preferia a sutileza. Sua voz suave e seu trabalho preciso de guitarra deram ao Fleetwood Mac uma identidade única. Até John Lennon percebeu, elogiando o carisma tranquilo de Green e chamando-o de “ótimo” no documentário Get Back, de Peter Jackson.
Essa energia suave não era uma limitação — era um trunfo. Músicas como “Albatross” provaram que um instrumental lento e meditativo poderia se tornar um grande sucesso. Mostrou que o Fleetwood Mac não precisava gritar para ser ouvido. A arte de Green residia na contenção, deixando a emoção respirar em cada nota.
Estilo único
Seu estilo único o destacou mesmo em uma era competitiva. E quando ele compôs “Black Magic Woman”, foi uma extensão natural de sua sensibilidade ao blues — sombrio, melancólico, mas irresistivelmente sexy.
“Black Magic Woman” não surgiu do nada. Seu DNA pode ser rastreado até o clássico de blues de 1958 “All Your Love (I Miss Loving You)”, de Otis Rush. Green já havia regravado essa faixa com o Bluesbreakers de John Mayall, e a experiência o marcou. Certa vez, ele compartilhou que John Mayall encorajou seus colegas de banda a reimaginarem o que amavam, levando Green a criar algo totalmente novo.
Antes de chegar a “Black Magic Woman”, Green experimentou uma precursora chamada “I Loved Another Woman”, presente no álbum de estreia do Fleetwood Mac. Embora a letra fosse diferente, a estrutura — uma base menor de blues com um ritmo com influência latina — lançou as bases para o que estava por vir.
Ao refinar o tom e aprofundar a mística, Green transformou um lamento pessoal em uma história assombrosa de sedução e perigo. A letra se inspirava em seu próprio passado romântico, especificamente em uma mulher chamada Sandra Elsdon, a quem ele carinhosamente chamava de “Magic Mamma”. Com esse pano de fundo emocional, a música ganhou seu tom mítico.
A versão original de “Black Magic Woman” do Fleetwood Mac fez sucesso no Reino Unido e ajudou a consolidar a reputação da banda nos círculos de blues. Mas foi somente quando Carlos Santana fez um cover da música em 1970 que ela explodiu globalmente. A versão de Santana, impulsionada pelos vocais de Gregg Rolie e um arranjo vibrante de rock latino, alcançou a quarta posição na Billboard Hot 100.
Santana adicionou uma energia vibrante e percussiva à música, preservando sua pegada hipnótica. Sua releitura não foi apenas um cover — foi uma reinvenção. Para muitos ouvintes, tornou-se a versão definitiva, embora a versão original de Green continue sendo uma joia no catálogo inicial do Fleetwood Mac.
Apesar de ofuscada pelo sucesso de Santana, a composição de Peter Green lançou as bases. Sua arte no blues cruzou gêneros e fronteiras, provando que uma música nascida da introspecção e da dor pode encantar milhões de pessoas ao redor do mundo.
