A entressafra que vivemos hoje é muito parecida com a que aconteceu no final dos anos 70 e início dos anos 80 , até a Blitz aparecer, em 1982, com “Você Não Soube Me Amar”. Naquela época, ainda sob o regime militar , os artistas eram divididos entre “ engajados” ( aqueles que faziam música de protesto, como Chico Buarque, por exemplo ) e “alienados” (artistas como a banda A Cor do Som , que cantavam letras apolíticas) .
A Cor do Som, que fazia um mix de música instrumental com releituras de músicas de Moraes Moreira e algumas composições próprias , tinha músicos excelentes. O problema era que os jovens queriam algo mais conectado com sua realidade.
OK , você venceu , batata frita !
Quando , em 1982, a Blitz veio com seu som descolado , colorido e debochado , houve uma explosão. A juventude da época identificou-se com aquela crônica de um “casal sensacional”.
Era isso que os jovens queriam: algo colorido , solar e divertido. Chega de letras enigmáticas com mensagens “subversivas” contra o sistema. O povo queria cantar e dançar. Chega de “música cabeça”! Evandro Mesquita e sua trupe , mostraram que o sol estava nascendo para aqueles que queriam fazer Rock sem compromisso. A regra era não ter regra.
Aí , você diz
“Ah ,mas depois apareceram Renato Russo e Cazuza”
Sim, mas o meu ponto aqui é ruptura que a Blitz simboliza. A MPB desconectou-se dos jovens porque tornou-se a música que os mais velhos e os “ superiores intelectualmente” escutavam. Os jovens amaram a nova estética que apareceu, pois só queriam paquerar, comer batata frita e tomar um chopp gelado.
Adeus , hippies tardios !
Eles se cansaram do “vinho tinto de sangue” , que foi legal cantar quando era moda ser hippie tardio, mas como toda moda, isso passou.
Quando Rita Lee, em 1977, cantou em “ Arrombou a Festa “ : “afasta-me esse cálice e me traz Moet & Chandon”, já criticava, entre outras coisas, a mudança dos papas da MPB ( que enriqueceram e usam suas bandeiras ideológicas para continuar se dando bem).
Alguns vão dizer que essa juventude que abraçou o Rock dos anos 80 era alienada e hedonista porque não protestava contra o sistema. E se fosse, qual o problema ? O Rock é a música da liberdade. Ninguém , por ser roqueiro, é obrigado a levantar bandeira ideológica. O momento que estamos vivendo , agora em 2024 , parece muito com o que rolou há 40 anos porque estamos em entressafra . Há a supremacia do sertanejo , há a nova MPB e suas bandeiras ideológicas com seus Ukuleles com o povo prolongando vogais nos finais dos versos . E , por fim , há o Funk brasileiro, cada vez mais saturado ( em todos os sentidos) .
E o Rock ? O Rock brasileiro aguarda aparecer uma nova Blitz para romper com esse mimimi chato e a cultura do cancelamento resultante da briga Direta x Esquerda