A primeira vez que ouvi Ace of Spades, do Motörhead, eu era superjovem. Jovem demais para realmente entender o que estava ouvindo, mas velho o suficiente para saber que era algo que não seguia as regras. Aquela introdução não tocou simplesmente. Ela detonou. Foi tão grande, tão agressiva, tão eletrizante, que parecia que alguém tinha acabado de arrombar a porta do que eu achava que o rock poderia soar.
Eu estava convencido de que a introdução era de guitarra. Uma Les Paul ou SG , provavelmente atravessando uma parede de Marshalls. Talvez com algum pedal de guitarra artesanal, raro e bacana. O tipo de distorção artesanal que soa como uma motosserra quebrada da melhor maneira possível.
Eu precisava saber como eles faziam. Eu precisava daquele som.
Mal sabia eu.
Não era uma guitarra.
Aquela introdução gloriosa e arrasadora era, na verdade, o Lemmy no baixo. Sim. Baixo.
Cavalo de batalha
Ele estava tocando seu “cavalo de batalha”. Um Rickenbacker 4001. Através de seu cabeçote Marshall Super Bass 100, carinhosamente e irreverentemente apelidado de “Marsha”. E ele não tocou apenas através dele. Ele o obliterou. Lemmy tratou seu baixo como uma guitarra distorcida e uma escavadeira juntas. Sem sutileza. Apenas força bruta e volume.

O Super Bass foi originalmente projetado para baixistas, mas compartilhava DNA com o amplificador de guitarra Super Lead. Lemmy não se importava com os detalhes técnicos. Ele o fazia gritar. Essa era a mágica. Ele não esculpia o timbre. Ele o atacava. O resultado era pura carnificina sonora. Médios à frente. Distorcido sem remorso. Absolutamente vivo.
O que você está ouvindo naquela música não é apenas um baixo. É uma explosão. Sem overdubs. Sem truques de estúdio. Só Lemmy, seu Rick, Marsha e pura atitude. O timbre era só os dedos dele e aquele amplificador, cru e real. E no momento em que você percebe que não é uma guitarra? É nesse momento que seu cérebro derrete um pouco e todo o seu conceito de “timbre de baixo” precisa ser reescrito.
Lemmy não precisava de polimento ou perfeição.
Ele precisava de volume, atitude… e uma garrafa de Jack Daniels.